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Megan Rapinoe é uma das melhores jogadoras de futebol do mundo, embora seja cada vez mais conhecida por suas façanhas fora dos estádios. Essa atacante de cabelo platinado, olhar firme e físico robusto teve um papel decisivo na vitória da seleção dos Estados Unidos na Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2015, no Canadá, e na conquista do ouro olímpico em Londres, três anos antes. Aos 33 anos, no entanto, ela quer marcar gols com a mesma intensidade que deseja mudar o mundo. “Disponho de uma plataforma tão poderosa quanto o esporte, que interessa a milhões de pessoas do mundo inteiro. E faço parte de uma equipe que recebe uma grande cobertura da mídia. Ficar calada seria egoísta”, dizia Rapinoe durante um recente evento organizado pela Nike em Paris, onde a marca quis renovar seu compromisso com o esporte feminino, faltando poucas semanas para o torneio que será realizado na França em junho e julho.
Seus combates são múltiplos. No início de março, Rapinoe decidiu denunciar, juntamente com suas companheiras da seleção, a federação norte-americana de futebol de por discriminação de gênero. Seu objetivo é acabar com as diferenças de retribuição salarial e condições de trabalho entre as seleções masculina e feminina, separadas por um abismo. A jogadora, que tornou pública sua homossexualidade em 2012, também colabora com organizações como a Athlete Ally, que luta contra a homofobia no mundo do esporte, e a Common Goal, que incentiva as atletas de elite a doar 1% do salário para causas relacionadas com a justiça social. Em 2016, ela se ajoelhou durante o hino nacional antes de um jogo da seleção. Fez isso em apoio a Colin Kaepernick, o quarterback dos San Francisco 49ers, que havia protestado de forma idêntica contra a violência racial e a opressão das minorias. Foi a única do time a tomar essa iniciativa. “Suponho que, pelo fato de ser mulher e homossexual, sinto maior empatia em relação às pessoas que não estão numa posição dominante. Pareceu-me uma obviedade. Quando alguém se afoga, você ajuda ou fica parado na beira?”, explica.
Em tempos não muito distantes, Rapinoe teria sido banida do mundo do esporte. Neste convulso presente, seu gesto foi aplaudido. A federação estudou puni-la, mas acabou deixando o episódio de lado. Não só isso: em 2018, a jogadora se tornou capitã da seleção, responsabilidade que divide, de forma alternada, com outras duas estrelas do futebol feminino: Carli Lloyd e Alex Morgan. E, como se fosse pouco, gigantes como Nike e Samsung a escolheram como imagem. “As marcas entenderam que já não podem ficar caladas. Se cada vez mais as pessoas tomam partido, é porque compreenderam que seu silêncio também transmitia uma mensagem”, diz Rapinoe, que não causaria surpresa se algum dia entrasse na política.
A jogadora nasceu em Redding, pequena cidade no norte rural da Califórnia, cuja silhueta ela leva tatuada no antebraço. Tem cinco irmãos, incluindo a gêmea Rachael, com quem cresceu jogando, “como animais selvagens”, esportes como hóquei e flag football, uma variação suave do futebol americano. Foi num desses jogos de rua que ela escutou pela primeira vez a palavra “machona”. Não se importou muito, embora tenha sofrido ao descobrir, na pré-adolescência, que meninos e meninas deixavam de brincar juntos no pátio da escola. “Nenhuma menina ao meu redor jogava futebol. E existia uma seleção feminina desde os anos oitenta, mas nunca saía na TV”, recorda. Os tempos mudaram desde então, num país transformado em líder mundial do futebol feminino, onde as meninas gritam para ela na rua, dizendo que querem ser Megan Rapinoe quando crescerem.
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