[ad_1]
O economista Affonso Celso Pastore, autor de um texto amplamente comentado, comentou a situação da economia brasileira. Para ele atualmente o Brasil encontra-se entre a “depressão e a recessão” e que haveria espaço para um corte na taxa tributária brasileira após a aprovação da Reforma da Previdência, mas ele buscou ressaltar que o impacto para reanimar a economia é baixo. A análise de Affonso coincidiu com as feitas por alguns outros nomes da área que também estiveram presentes em um seminário realizado no Rio de Janeiro.
“Não se pode querer que a política monetária faça tudo, ela tem limites e não é a tábua de salvação para a economia brasileira na situação que está hoje”, afirmou Pastore, durante o “V Seminário Anual de Política Monetária”, organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e pelo Valor. Ele acrescentou que o BC pode até baixar os juros, considerando a inflação e o alto grau de ociosidade da economia, mas os atuais contextos global, macroeconômico e político “no mínimo” reduzem a eficácia da política econômica.
Werlang, por sua vez, foi enfático sobre a necessidade imediata de corte da taxa básica de juros, a Selic, já nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Um dos introdutores do regime de metas de inflação no país, ele defendeu duas reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual da taxa. “Não é solução, os políticos vão ver isso, mas por que continuar mantendo apertado desnecessariamente? Vocês têm razão, não é isso que vai resolver. Mas não tem sentido deixar mais apertado do que o necessário”, afirmou o ex-diretor de política econômica, hoje na FGV. Para ele, o corte reduziria “o sofrimento das pessoas”.
O ex-diretor de Política Econômica do BC Afonso Bevilaqua, professor da PUC-Rio, pontuou que revisões para baixo na expectativa de crescimento econômico não estão sendo acompanhadas pelos cortes nas projeções de inflação do mercado para 2019 e 2020. Esse é um indício de que o baixo crescimento tem mais a ver com as restrições da capacidade de oferta, diante do cenário de incertezas, do que de uma eventual falta de demanda agregada da economia, disse.
“Para o Copom [Comitê de Política Monetária do BC], contemplar revisões adicionais de juros básicos as revisões de cenário da atividade precisam fazer as projeções inflação se afastarem das metas da política monetária ao longo da trajetória relevante”, disse Bevilaqua.
Para o ex-diretor de Estudos Especiais do Banco Central Eduardo Loyo, dependendo de como e se for aprovada, a reforma da Previdência pode ter efeitos distintos sobre as condições que vão influir sobre as políticas econômicas a serem adotadas. Segundo ele, que é conselheiro no BTG Pactual, os reflexos benéficos podem ser maiores do que os negativos, com possibilidade de que “os espíritos animais” dos empresários se revigorem em alguma medida e com a chance de haver um espaço monetário adicional.
“Em caso de decepção da reforma em relação ao que esperamos, acho que vamos ter um problema de ter que tolerar um desempenho de atividade muito ruim e ter que tolerar também uma inflação alta”, disse.
Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, engrossa o grupo que acha que o BC poderá cortar os juros após a aprovação da Previdência, mas pondera que “não há bala de prata” nem medidas isoladas que farão a economia crescer do dia para a noite. Ele descartou a adoção de medidas fora do arcabouço do sistema de metas de inflação, que, segundo ele, tem sido muito úteis. Apesar das divergências com Werlang sobre cortes de juros imediatamente, ponderou que há consenso pelo menos sobre o que não fazer. “Não voltar a utilizar outros instrumentos parafiscais para tentar bombar a economia diretamente, uma alimentação forçada de crédito na economia”, disse o economista-chefe do Itaú Unibanco.
O também ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna afirma que o problema não é se a redução de juros será de 0,5 ou de 0,25 ponto percentual. “Estamos empacados há quatro décadas. Quando mais se fala que o estímulo monetário contribui para o avanço da economia, mais se tira o foco do que é essencial”, afirmou. Para ele, políticos e tomadores de decisão ficam na expectativa da atuação do BC, que, se ocorrer, não teria tanto impacto sobre o crescimento da economia. “Não dá, se tiver [impacto] é mínimo, vamos cuidar do que importa, de destravar a economia”, defendeu.
No artigo “A depressão depois da recessão”, a equipe da AC Pastore & Associados considera como principal critério para caracterizar a depressão econômica a estagnação da renda per capita (medida do PIB dividido pelo população). Nesse documento, a consultoria diz que é importante não apenas profundidade da recessão e sua retomada, assim como “saber quanto cada um dos cidadãos que habitam o país perdeu de renda per capita a partir do início da recessão, e nesse campo estamos vivendo um ciclo sem precedentes”, afirma o texto. No evento, Pastore afirmou ter recebido muitos comentários sobre se “depressão” seria o termo técnico adequado a ser usado, deixando de lado discussões aprofundadas sobre o problema em si.
Pastore projeta um PIB de 1% em 2019 e afirma que, com isso, “serão três anos consecutivos de renda per capita praticamente estável e 8% abaixo do pico prévio, o que caracteriza uma depressão. Para ele, a retomada não deverá vir das exportações líquidas, devido ao baixo crescimento mundial; nem do consumo das famílias, tem o desempenho muito fraco, o que tem relação o com a estagnação da renda per capita; nem do governo, que está sem capacidade de puxar a economia. O que restariam são os investimentos, que podem ser puxados pelas concessões e privatizações – e também ganhar um pequeno reforço de um eventual corte de juros, que juntamente com a reforma da Previdência poderia estimular o chamado “espírito animal” dos empresários.
“Você não corre o menor risco de aprovar a reforma da Previdência e a economia ter um superaquecimento instantâneo. Isso só existe na mesa de operação lá da [avenida] Faria Lima. Uma coisa é o mercado financeiro, outra é a indústria, agricultura, setor de serviços, de transportes. O BC sabe disso. O que ele não sabe e não pode dizer é qual é a qualidade da reforma da Previdência”, afirmou Pastore.
Para Senna, a reforma da Previdência é indispensável, mas outros aspectos precisam ser solucionados para que o crescimento de fato ocorra. “No dia seguinte da aprovação da reforma, os empresários ainda estarão se vendo na luta da carga tributária elevada e infraestrutura precária”, disse. “Nada disso é tocado pela reforma da Previdência.”
O post ‘Não se pode querer que a política monetária faça tudo’, afirma o economista Affonso Celso Pastore apareceu primeiro em Polêmica Paraíba.