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O médico paraibano Marcelo Queiroga, que assumiu o comando do Ministério da Saúde no dia 23 de março de 2021 se tornando o quarto chefe da pasta desde o começo da pandemia provocada pelo vírus da Covid-19, comumente tem sua capacidade gestora posta em dúvida por ter deixado nítido, em vários momentos, sua cautela para tentar agradar a Deus e o diabo e permanecer no cargo.
O paraibano já chegou a ser visto nos bastidores do poder, em Brasília, como um gestor sem autonomia, mesmo parecendo mais eficiente que seus antecessores em administrar a postura de Bolsonaro e as demandas sanitárias do país.
O próprio Queiroga contribuiu para a manutenção da imagem fraca que mantém à frente do Ministério ao admitir, por exemplo, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, mais conhecida como CPI da Covid, que não podia proibir o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de realizar aglomerações porque não era “censor” do presidente da República.
A declaração do paraibano foi registrada ainda na primeira semana do último mês de junho, período considerado crítico em relação ao avanço da pandemia no Brasil.
A atuação do ministro serviu para reforçar a imagem de um ministro liso, tenso e que tem medo de desagradar ao presidente, conforme foi apontado Marcelo Queiroga, por parlamentares e, pela imprensa, como um “Pazzuelo de jaleco”, como disse em outra ocasião a imprensa nacional.
Passados alguns meses, a imagem de Queiroga ainda não amenizou, sobretudo, pela postura política de quem tenta se dar bem com todo mundo em um momento em que tudo o que mais precisa ser visto é alguém com capacidade, firmeza e, sobretudo, conhecimento para ditar orientações eficazes para combater com agilidade o tempo que foi perdido no combate ao avanço da Covid-19 em território brasileiro.
Confira abaixo a matéria publicada pelo Estadão questionando se Queiroga está à altura da posição de ministro como o momento exige:
“A vida versus a burocracia estatal
Governos normais, nada mais do que isto, são capazes de transmitir alguma segurança aos cidadãos em momentos de crise, como, por exemplo, no curso de uma pandemia. Como normal não é, o governo de Jair Bolsonaro, ao contrário, demonstra ter uma capacidade de angustiar os brasileiros que parece não conhecer limites.
O país que o presidente da República deveria governar, se tivesse um plano e não fosse avesso ao trabalho, ultrapassou a terrível marca de 550 mil mortes por covid-19. Já é sabido que só o rápido avanço da vacinação haverá de interromper este morticínio, mas, mesmo assim, o Ministério da Saúde não é sequer capaz de garantir aos Estados e municípios, responsáveis pela aplicação das vacinas, o cumprimento dos prazos para envio das doses que recebe dos fabricantes.
Há mais de uma semana, nada menos do que 16 milhões de doses de vacinas, de diferentes laboratórios, estão armazenadas nos galpões do Ministério da Saúde. “Informes técnicos”, documentos disponíveis para consulta no portal da própria pasta na internet, revelam que este é o quantitativo “estocado”. A inacreditável retenção destas vacinas levou ao menos dez capitais – Belém, Campo Grande, Florianópolis, João Pessoa, Maceió, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Vitória – a suspender a aplicação da 1.ª dose do imunizante. Goiânia e Cuiabá não chegaram a suspender totalmente a vacinação, mas limitaram a aplicação a menos pessoas. É um absurdo haver tantas vacinas “estocadas” e elas não chegarem rapidamente à população.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reconhecido por seu empenho em trazer uma vacina para o Brasil diante do descaso de Brasília, indignou-se publicamente pelo descalabro. Em suas redes sociais, o tucano classificou como “vergonhosa” a falta de desvelo na distribuição das vacinas neste momento delicado, em que a pandemia dá sinais de arrefecimento, mas em patamares de casos e mortes ainda muito elevados.
De fato, ao governo federal, que só passou a defender a vacinação da população quando reveses políticos se tornaram incontornáveis, falta o devido senso de urgência. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), recorreu à ironia. “O senso de urgência do Ministério da Saúde chega a impressionar”, escreveu Paes em suas redes sociais.
Tanto a crítica do governador paulista como a do prefeito carioca são pertinentes. Esta falha do Ministério, no entanto, deve servir para fazer as administrações estaduais e municipais serem mais cautelosas ao divulgarem seus calendários de vacinação. Não foi o primeiro atraso e, seguramente, não há de ser o último.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu o atraso na distribuição dos imunizantes e culpou a burocracia estatal. “Não há estoque de vacinas”, disse Queiroga a um grupo de jornalistas. “Quando as vacinas chegam no aeroporto, elas precisam ser avaliadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Depois, precisam passar pelo controle do INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde). Também tem a questão da Receita Federal. Só depois é que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) prepara as pautas e essas vacinas são enviadas aos Estados e municípios”, explicou o ministro.
Marcelo Queiroga é o ministro da Saúde – o quarto – de um país que já perdeu mais de meio milhão de seus cidadãos para um vírus contra o qual já existem quatro vacinas disponíveis. Se, nesta condição, o ministro não tem a força necessária para encurtar prazos e vencer os entraves do que chamou de “burocracia estatal”, cabe indagar se ele está à altura da posição, como o momento exige, ou se tem recebido o devido apoio de seu chefe. Useiro e vezeiro em alardear sua autoridade como presidente da República, não custaria a Bolsonaro movimentar as engrenagens da administração pública federal para tornar cada vez mais célere a distribuição de vacinas para a população. Mas, primeiro, ele precisa querer que isto aconteça.“